quinta-feira, 17 de junho de 2010

O que importa mais.

A mesa rodava, as luzes insistiam, os barulhos iam cessando como um prêmio e as pessoas tentavam me aquecer. Eu sabia que estava sendo amada, talvez como nunca em toda a minha vida. Mas só tinha olhos para os pêlos do seu braço. Eu olhava como quem não olha e me dizia baixinho: olha eles lá, olha lá os pêlos que eu tanto amo sem mais e sem fim.
Matei finalmente a saudade do seu dedão. Seu dedão meio largo, meio torto, com a unha que preenche todo o dedão. Eu amo o seu dedão, amo sua unha meio roxa, amo a semicircunferência branca que sai da sua cutícula e vai até o meio da sua unha, amo a sua mão delicada que sai de um braço firme. Amo que os pêlos da sua mão pareçam meio penteados de lado.
É isso, sei lá, mas acho que amo você. Amo de todas as maneiras possíveis. Sem pressa, como se só saber que você existe já me bastasse. Sem peito, como se só existisse você no mundo e eu pudesse morrer sem o seu ar. Sem idade, porque a mesma vontade que eu tenho de te comer no banheiro eu tenho de passear de mãos dadas com você empurrando nossos bisnetos.
E por fim te amo até sem amor, como se isso tudo fosse tão grande, tão grande, tão absurdo, que quase não é. Eu te amo de um jeito tão impossível que é como se eu nem te amasse. E aí eu desencano desse amor, de tanto que eu encano.
Ninguém acredita na gente: nenhum cartomante, nenhum pai-de-santo, nenhuma terapeuta, nenhum parente, nenhum amigo, nenhum e-mail, nenhuma mensagem de texto, nenhum rastro, nenhuma reza, nenhuma fofoca e, principalmente (ou infelizmente): nem você.
Mas eu te amo também do jeito mais óbvio de todos: eu te amo burra. Estúpida. Cega. E eu acredito na gente. Eu acredito que ainda vou voltar a pisar naqueles cocôs da sua rua, naquelas pocinhas da sua rua, naquelas florzinhas amarelas da sua rua, naquele cheiro de família bacana e limpinha da sua rua. Como eu queria dobrar aquela esquininha com você, de mãos dadas com os pêlos penteados de lado da sua mão.
Outro dia me peguei pensando que entre dobrar aquela esquininha da sua rua e ganhar na mega-sena acumulada, eu preferia a esquininha. A esquininha que você dobrou quando saiu da casa dos seus pais, a esquininha que você dobrou chorando, porque é mesmo o cúmulo alguém não te amar. A esquininha que você dobrou a vida inteira, indo para a faculdade, para a casa dos seus amigos, para a praia. Eu amo a sua esquininha, eu amo a sua vida e eu amo tudo o que é seu.
Amo você, mesmo sem você me amar. Amo seus rompantes em me devorar com os olhos e amo o nada que sempre vem depois disso. Amo seu nada, apenas porque o seu nada também é seu.
Amo tanto, tanto, tanto, que te deixo em paz. Deixo você se virando sozinho, se dobrando sozinho. Virando e dobrando a sua esquininha. Afinal, por ela você também passou quando não me quis mais, quando não quis mais a minha mão pequena querendo ser embalsamada eternamente ao seu lado.

Amém.

Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe ate que a morte os separe? Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence à você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade?
Promete saber ser amiga e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?
Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar?
Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e portanto a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?
Promete se deixar conhecer?
Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?
Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?
Promete que não falará mal da pessoa com quem está só para arrancar risadas dos outros?
Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que relacionamento algum elimina?
Promete que lembrará de tudo isso e não usará essas palavras apenas pra se mascarar e depois desistirá de tudo isso quando cansar?
Sendo assim, te declaro: Madura.

Abominável homem das neves.

Eu olho pra sua tatuagem e pro tamanho do seu braço e pros calos da sua mão e acho que vai dar tudo certo. Me encho de esperança e nada. Vem você e me trata tão bem. Estraga tudo.
Mania de ser bom moço, coisa chata.
Eu nunca mais quero ouvir que você só tem olhos pra mim, ok? E nem o quanto você é bom filho. Muito menos o quanto você ama crianças. E trate de parar com essa mania horrível de largar seus amigos quando eu ligo. Colabora, pô. Tá tão fácil me ganhar, basta fazer tudo pra me perder.
E lá vem ele dizer que meu cabelo sujo tem cheiro bom. E que já que eu não liguei e não atendi, ele foi dormir. E que segurar minha mão já basta. E que ele quer conhecer minha mãe. E que viajar sem mim é um final de semana nulo. E que tudo bem se eu só quiser ficar lendo e não abrir a boca.
Com tanto potencial pra acabar com a minha vida, sabe o que ele quer? Me fazer feliz. Olha que desgraça. O moço quer me fazer feliz. E acabar com a maravilhosa sensação de ser miserável. E tirar de mim a única coisa que sei fazer direito nessa vida que é sofrer. Anos de aprimoramento e ele quer mudar todo o esquema. O moço quer me fazer feliz. Veja se pode.
E aí passa a maior gostosa na rua e ele lá, idolatrando meu nariz. E aí o celular dele toca e ele, putz, perdeu a ligação porque demorou trinta mil horas pra desvencilhar os dedos do meu cabelo. Com tanto potencial pra me dar uns tapas, o moço adora me fazer carinho com a ponta dos dedos.
Não dá, assim não dá. Deveria ter cadeia pra esse tipo de elemento daninho. Pior é que vicia. Não é que acordei me achando hoje? Agora neguinho me trata mal e eu não deixo. Agora neguinho quer me judiar e eu mando pastar. Dei de achar que mereço ser amada. Veja se pode!!!
Vinte anos servindo de capacho, feliz da vida, e aí chega um desavisado com a coxa mais incrível do país e muda tudo. Até assoviando eu tô agora. Que desgraça.
Ontem quase, quase, quase ele me tratou mal. Foi por muito pouco. Eu senti que a coisa tava vindo. Cruzei os dedos. Cheguei a implorar ao acaso. Vai, meu filho. Só um pouquinho. Me xinga, vai. Me dá uma apertada mais forte no braço. Fala de outra mulher. Atende algum amigo retardado bem na hora que eu tava falando dos meus medos. Manda eu calar a boca. Sei lá. Faz alguma coisa homem!
E era piada. Era piadinha. Ele fez que tava bravo. E acabou. Já veio com o papo chato de que me ama e começou a melação de novo. Eita homem pra me beijar. Coisa chata.
Minha mãe deveria me prender em casa, me proteger, sei lá. Onde já se viu andar com um homem desses. O homem me busca todas as vezes, me espera na porta, abre a porta do carro. Isso quando não me suspende no ar e fala 456 elogios em menos de cinco segundos. Pra piorar, ele ainda tem o pior dos defeitos da humanidade: ama meu ciúme. E eu não tenho, não sei ter! É tão obcecado por mim que nem lembra direito o nome de qualquer outra mulher, como eu teria? Fala se tão de sacanagem comigo ou não? Como é que eu vou sofrer numa situação dessas? Como? Me diz?
Durmo que é uma maravilha. A pele está incrível. Vou à academia. A vida tá de uma chatice ímpar. Alguém pode, por favor, me ajudar?
Existe terapia pra tentar ser infeliz? Outro dia até me belisquei pra sofrer um pouquinho. Mas o desgraçado correu pra assoprar e dar beijinho.

Malboro Light

Brincos, unhas, perfume e batom. Tudo no lugar. A bolsa, as chaves, o Malboro e a buzina. Eu saio saltitante, como uma gazela, e vou ao encontro de mais uma esperança. O convite dessa vez foi bem diferente. Nada de jantar, cinema, motel ou bar. Um show! E lá fomos nós. Cadeiras cobertas, cerveja na mão, o cantor no palco, nem uma letra em minha mente. Um Malboro me esperando na bolsa, louquinho pra ser sugado pelo meu pulmão de lady. "Você vai fumar?", que tipo de pergunta é essa? Se o cigarro está entre meu dedos, o isqueiro nos dedos da outra mão com o gatinho apertado, é quase todo caminho andado pra resposta que ele quer ouvir. Ou não.
Vi um franzidinho na testa, uma entortada na boca e uma distanciada típica de pessoas geração saúde.
"Vou fumar sim! Quer um?", e aurea de reprovação permaneceu. Nessas horas eu começo a me perguntar, por que não fizeram todos os homens sem sensores? Se é o perfume doce, reclamam, se eu estou gorda, avisam, se a sola do pé não está uma pedacinho de soft, advertem, se a minha voz é muito aguda, se irritam, se eu fumo, me abandonam.
Contornei a situação, com o fim da noite predestinado em minha mente. Um beijinho no rosto e um tchau digno de uma pessoa sentida que entra em casa e não volta mais.
Todo o resto já virou um saco pra mim alí. Credo! Cara chato, sem graça, certinho, ranheta, chiliquento, que pirraça!
Mas ele é tão charmoso...
Talvez, por hoje, eu possa não fumar mais, vou fazer um agradinho.
É unha esperando pra ser roída, salto que não para de batucar no chão, joelhos inquietos fazendo a dança do Lago do Cisne, enrola cabelo daqui, coça a testa de lá. Ansiedade, tensão, mágoa, desespero, trauma, depressão. Quero um cigarro!!!
Um só e eu seria tão feliz...
Mas já está acabando. Depois daqui vai rolar um sexo maravilhoso, eu sei, e toda essa tensão vai acabar.
Good Night Brazil! E o tão esperado FIM-DO-SHOW.
"A noite foi maravilhosa!", eu falo com aquele sorrisinho de Miss Brasil, lembrando por dentro do quão crápula, machista e insensível ele foi com meu vício.
Meus Malborinhos na bolsa, com aquele sabor de pavê de chocolate, decepcionados com minha fraqueza e traição.
Eu menti. Me enganei e os enganei, só pra ter com quem me roçar no fim da noite. Agora já está feito. Foi cruel da minha parte, mas os meninos vão entender.
Motel! Vira a direita, entra com o carro. Minha cabeça já começa a liberar a endorfina, a dopamina, a noradrenalina, a morfina, a serotonina e todas as inas que tavam em baixa até agora.
E dá-lhe adrenalina! Tira a roupa, se joga na cama, arranha as costas, abaixa as calças, pega a camisinha e...
E cadê? Cadê???
Ele se levanta sem a menor cara de decepção, me olha, pede um cigarro, me larga na cama, à margem de mim mesma, com meus milhares de hormônios à mil, vai pra varanda e fuma.

Edredon.

A Cat continua pedindo pra Aretha cantar mais uma pra ela. O meu quarto virou uma pintura abstrata de Monet, coisa que a gente ama com a testa, os olhos, as rugas e o coração. A imagem deixada, foi a de um furacão que passou depois dos 6, 7 ou alguns drinks a mais e transformou o ambiente em uma interrogação. Mas como eu disse, acabo amando, né? No fundinho amo com a segurança de uma mulher boba e apaixonada.
Amo a sua meia da Nike jogada ao lado da cama com os pelinhos arrepiados, os copos dos drinks no criado mudo, a cueca azul calcinha (o tipo de coisa que já tá errada em sua essência) alí em cima da minha pantufa da pantera-cor-de-rosa-chock, minhas lingeries Victoria que me fizeram sentir uma cópia do museu de cera, de uma Angel, rasgadas e devoradas pela sua fúria avassaladora-descontrolada-animalizada e totalmente-sexualmente-adoravelmente-excitante. Eu olho aquela calcinha, tão minúscula e me pergunto se a coloquei no lugar certo. Talvez tivesse sido pra usar como enfeite no pulso ou fosse pra ser usada como um broche. Mas, ao menos me deixou atraente e gostosa, tudo bem, com a mobilidade de um boneco de Durepox, mas, gostosa.
Meu rímel, minha fonte maior de dignidade e charme, desfeito em um bela caricatura panda-dalmata no meu rosto. O cheiro de sexo, amor, tesão, romance, calor, excitação e prazer espalhado pelo quarto, corredor, teto, chão, almofadas e cortinas. O meu perfume caríssimo, já se desfez no ar desde quando o Bourbon em sua boca passou a ser o único cheiro e gosto que me deixava interessada.
Eu fiz amor, eu fiz sexo, eu trepei, eu transei, eu me entreguei, eu te comi, eu te devorei, eu te quis e a gente se fez. Eu senti em sua boca o gosto da minha bebida. Nós fomos pra praia. É! Pra praia (!). Pra Marte, Azerbaijão, Campos, pra uma mesa de bilhar, pra Lua, pro centro da Terra, pro fundo do Oceano, pro Himalaia. A gente fez tudo que quis em alguns segundos de loucura.
A cera da vela essas horas já grudou nos móveis, meu edredon vermelho-paixão foi escondido em qualquer lugar da estratosfera e nesse momento não posso se quer me mexer pra procurá-lo.
E você aí deitado. Com a paz de um anjo.
Você que ontem fez tudo ficar de ponta cabeça, que fez o que nem o diabo faria, aí agora, como um anjo. Eu com alguns roxos-dente e você com alguns vermelhos-unha. A gente se tatua né? Pra claro, não deixar o meio da semana chegar sem a lembrança nítida do sábado à noite no retroprojetor.
Das pequenas coisas que me faltam agora me lembro mais da Coca-Cola 2,5L. Sinto a garganta empoeirada. Queria também um banho, daqueles que deixam a gente com ar de Spa. Mas vou ficar aqui com você até você acordar, me abraçar, me beijar e rolar comigo. Até ir pro banho e depois tomar a Coca-Cola, a Fanta ou o que Deus quiser comigo. Por que eu não quero me levantar, parar em frente à cama, achar tudo isso colorido e lindo. Olhar pra você aí deitado e te achar feio, cinza e bobo, todo tão-sem-mim...

O coiso.

Quando eu conheci o coiso pela primeira vez, eu tinha 20 anos. Digo pela primeira vez, por que o coiso é bipolar. E no dia seguinte, já era meu aniversário. Comemorei logo pela manhã tomando um café na padaria em que eu o havia conhecido no dia anterior. Conhecido o coiso um, então, no dia dos meus 21 invernos, conhecí o coiso dois, que mal se lembrava de mim e de fato não mantinha o sorriso amigável de um senhorzinho com cara de vovô que rola no chão com os netos. Ele um dia é o coiso um, no outro dia o coiso dois. Passamos então a tomar café toda manhã na esquina na Dr. Arnaldo, coversávamos e discutíamos lamúrias, jornais, medicina, yoga, filosofia, desmatamento e gloabalização. Dependia da personalidade ativada no dia.
E era bem divertido nos dias "um", em meio à nossa correria urbana, tomarmos o tal café com chantily falando sobre o que não se fala com ninguém. Ser aconselhada pela sabedoria Jedai, advertida com palavras amorosas e guiada por um mentor que parecia querer firmar meus pés, me formando uma boa garota, era uma terapia free pack, que me enchia de entendimento e cafeína. Típico de um professor de colégio tradicional, que por mais de 40 anos guiou crianças, adolescentes, jovens e até mesmo adultos, para a maturidade.
Eu falava dos meus homens, descasos e porres. Ele falava do trabalho, da conta na farmácia e do gato velho que estava fazendo acupuntura.
Passavamos nossos 73 minutos diários, dividindo o cotidiano e o impessoal, as bobalheiras de uma garota, os assuntos sérios de um velhinho, o coiso.
O coiso dois é tipo aquele tio avô rico chato que você até queria que morresse pra curtir a vida com o que ele tem debaixo do colchão, mas ao mesmo tempo você pensa: e como é que eu vou ser feliz sem a minha tristeza - pensamento intimista de uma garota que não tem mais com o que se preocupar e acha que o centro do mundo é seu piercing no nariz - sem o meu tio avô ranzinza que guarda alegrias embaixo do travesseiro, desejando que todo o resto do mundo morra infeliz, sem tê-las encontrado e sem ter achado graça em qualquer outra coisa durante a vida? Ele protege o mundo da simplicidade com medo que a maluquice saia de moda. Qualquer coisinho que existe desde 1982 tem medo de sair de moda.
Então, deixa o cinza lá, deixa o coiso lá. Pelo menos eu sei onde ele está, a moda velha está segura e o seu cheiro de mofo sai no dia seguinte e volta com tema descontraído e amigável. Pior é se ele morre no dia "dois" e resolve me assombrar.
Bom, eu estou escrevendo pra dizer que hoje, o coiso não foi. E eu não tinha com quem falar sobre meu dia e todas as outras coisas que me fazem palavras. Ele não foi, e se ele não vai, eu também não vou, à lugar algum, nem à mim mesma e ainda por cima fico sem sentido, fico um dia todo, totalmente sem sentido. Eu olhei mas ele não estava lá. Esperei e não, o coiso não coisou. Tomei um café preto apenas, que era o trocadoo que eu tinha - senão não teria pro ônibus querido - e fui andando com a sensação de vazio, de quem não tinha sido repreendida, compreendida, reprovada ou amada, pela bondade infinita do coiso.
Hoje o coiso me fez acordar às sete da manhã. E não apareceu. Ah, esse coiso maluco. Nem dormir eu posso mais, pois ele não me deixa atrasar. E hoje ele não foi.
Talvez hoje eu não durma de preocupação.
Resolvi que amanhã eu vou quebrar o pau com ele. Chamarei o coiso e o colocarei no seu devido lugar de professor. Vou falar, falar, falar e falar e dizer que aos amigos e alunos, não se abandona. Fiquei perdida, como ele pode fazer isso? Vou mostrar pra ele quem manda.
E sabe o que ele vai fezer? Falar, no maior cinismo, que não tinha botado inseto imaginário nenhum nos meus sonhos pra eu não dormir, que não tinha pedido pra eu dar uma de herói e salvar uma xícara de café a cada dia pra que ela não ser degustada por um desentendedor da arte e que se ele não apareceu, era por que tinha mais o que fazer. Tinha sua dentadura pra esfregar com Veja, tinha seu sapato pra engraxar na praça, tinha jornal pra resgatar da fúria do cachorro do vizinho e eu que realmente precisava dele, que desesperadamente precisava saber viver hoje, era quem estava ficando louca.
Eu pensando bem, não vou contrariar não. Hoje foi o vovô amável que me deixou plantada, ele deve ter tido um real motivo importante, pra não me avisar. Eu não quero correr o risco perder, nem mesmo o pior dos dois e amanhã quem vai estar lá, não vai lembrar de Freud, Yoga nem do significado ímpar que uma garrafinha de Heineken tem. Vai estar estressado, louco, vulcanico e rochoso. Vai apenas ser o coiso dois, frio, indiferente, comum, paulistano e odiado - até a meia noite e sua carruagem de abóbora - ele vai se estressar e não vai se perdoar, por ter sido "um" e ter faltado, por ter deixado à solta a coisa, a louca, a maluca, a frenética, a psicopata, que ele teima em dizer que nos dias pares, vive em mim!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Máfia do amor.

Tem momentos em que eu queria ter poucas palavras. Eu me viraria com apenas aquelas, básicas e não iria me perder em explicações complexas e irrelevantes, sobre o que eu acho do amor.
O amor é uma besta desenfreada, é um bicho não castrado, é uma cobra venenosa, é um infarte, um desastre, um caos, uma erupção vulcânica, é o lado mais maudoso da vontade de qualquer criador, é a maior perfeição imperfeita que existe.
E eu adoraria não tê-lo conhecido, nem ao amor, nem aos olhos azuis. Que são coisas distintas, mas inspiram a mesma quantidade de pecado e paixão.
A diferença entre o suposto amor e os tais olhos azuis, é única e exclusivamente quanto um se contem no outro. E tem também o quanto eles despertam de desestabilidade em seres inocentes, indefesos e que gostariam de estar mais anônimos que um trombone.
Nós, esse pobres seres, somos estraçalhados feito bifes, sem o menor escrúpulo e retidão mediante a infestação desses sentimentos. O amor e os olhos azuis. Ambos, sentimentos.
O amor, é um sentimento até que bonito, coisa que diz-se pura e benéfica, que trás alegria e plenitude. Os olhos azuis, um sentimento de charme ímpar, diz-se verdadeiro, sensato e firme, que está aqui pra nos fazer bem e nos ajudar a passar essa vida com mais diversão.
Os dois, charlatões.
O pior é que o amor vem em bando e por hilário e irônico que seja esse sentimento plural, "olhos azuis", vem sozinho. E perfura nossa paz, nosso sono, nossa clareza e decência moral.
É pior do que o próprio diabo e mais forte que a própria essência da palavra tentação.
E cá ficamos nós. Mudos e sem descrição - como vocês podem perceber - daquilo que passamos a sentir.
Eu não quero mais viver assim, estou pensando numa macumba, numa oração, num passe, numa tentativa de me livrar do encosto e me ver bem longe desse negócio do outro mundo. E eu sei bem que vou conseguir, esperta que sou, vou sair à francesa disso como se nada tivesse acontecido e ainda vou sair cantando o hino do Azerbaijão pelas ruas só pra satirizar.
De todo esse mal que ele me fez, tem um revelador e que eu considero o mais cruel. Esse sentimentozinho infeliz, desse tal de "olhos azuis", me fez reviver. Eu que gostava da minha vidinha cinza, surda, amarga e solitária. Eu que gostava de dar nó em vento e murro em ponta de faca, mas sozinha, fui obrigada a rever cores, amarelas, vermelhas, azuis, todas coloridas e muito fortes e o pior, fui obrigada a ouvir canções, frases assoviadas pelo vento e palavras pautadas no coração.
Fui obrigada a falar do amor. Eu que nem citava esse dito cujo por medo do azar. Essa peste espanhola, esse tango da morte, essa feiúra do além. Fui obrigada a reconhecer que a solidão é bem melhor a dois e que no meu coração faltava um tanto de emoção.
E eu mato. Mato esses olhos azuis, mato o amor, mato quem for preciso matar pra me ver livre dessa coisa florida toda. Ou mato à mim. Me jogo da ponte, do precipício, me jogo no rio, num monte de jacarés ou até mesmo o pior: me jogo nos braços dele. Daqueles olhos azuis, pois, pensando bem, é sacrifício demais, impossível demais, cansativo demais, ir contra o que já me envenenou. Talvez esse aí, seja bem mais esperto e treinado que eu. Pode ser que ele apareça sozinho pra enganar e seja ele quem manda nesse tal de amor, nessa gangue do bonitinho. E se não morrer pelas armas dele, posso depois ser pega à força e aí será vergonhoso, posso acabar morrendo da pior forma possível - o que não desejo à ninguém - que será nas mãos da máfia, do temível e destruidor, amor.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Desabafo, ódio e tatuagem.

Eu ando cansada das mentiras
De te ver se enganar com suas idéias mesquinhas
Seus ideais cheios de palavras bonitas
E sentidos vazios

Eu andei cansada de me sujeitar
De me abraçar sozinha
Me confortando e protegendo do seu surto
Da sua amargura e melancolia

Andei sendo mais senhora, menos menina
Andei sendo mais homem, menos mulher
Fui mais monstro, menos gente
Mais crueldade e menos amor

Hoje, eu odeio qualquer coisa que se ligue à você
Odeio qualquer frase barata e alcóolica
Odeio o amargo, a loucura e a depressão
Por que o pouco disso tudo me faz sentir quem você foi
E eu tenho nojo

Odeio toda tatuagem em minha mente
Suas lembranças sujas em minhas palavras
Estas marcas que você deixou e eu estou escrevendo agora
Essa frase podia ser feliz

Espero que se livre do ácido, da bebida e da bunda
Espero que se mate enforcado em seus dramas
E que sua desgraça te faça acordar
Espalhando cacos pelo chão
No dia em que atirar sua coragem no espelho

Se apaixonar por si mesmo é fulga
É egocentrismo e egoísmo pra não colecionar inimigos e rivais
É medo da decepção e escolha pela eterna solidão
Mas é merecimento seu, essa foi sua luta

Você venceu e como você queria
Está sozinho, derrotado e tão sem gosto quanto um nada
Andam dizendo que o inferno é o melhor jeito para sair
Vou dar uma olhada ao redor e me informar pra você!

Eu só peço que não faça disso seu sentido pra viver
Seu sentido é o ódio, continue a viver dele
Minha loucura, é minha e não te compete
Não diz respeito algum à quem você é

Vou muito bem, obrigada, sem seu amor ou indiferença
E não tente se explicar, pois aqui dentro você não vale nada
Não tem mais nada a conquistar
Te desejo apenas a morte, é o único desejo que tenho por você

Desejo que chegue ao fundo de tudo isso
No fundo do poço que você cavou
Só assim existe uma esperança de que você renasça
E pela paixão pela arte, talvez
Eu possa ter ainda compaixão pra te dar
E estar aqui ainda pra estender as mãos
No dia que você pedir perdão e conseguir enxergar tudo o que tudo significou, lá atrás.