Só que tinha tanta coisa importante, como eu poderia simplesmente tirar de lá?
Tinham borboletas coloridas, flores, caixinhas de chiclétes, bilhetes de filmes, cartinhas e muitas lembranças e sorrisos, daí comecei a vasculhar tudo, olhando coisa por coisa e comecei a me surpreender com o que eu via, tinham coisas que eu não esperava encontrar alí. Comecei a encontrar as facas que usaram pra me apunhalar nas costas, encontrei cartas de raiva, as palavras que mais me magoaram na vida, escritas em bilhetes com letras douradas e aquilo reluzia tanto. Encontrei fotos de brigas, lentes de contato vermelhas, algodão e remédios que usei pra limpar as feridas, comprimidos pra dormir, pra esquecer. Couberam garrafas de bebiba, drogas, cigarros e eu sinceramente não sei como aquilo tudo tinha ido parar alí.
Entre minhas borboletas e flores, tinham ído parar minhas mágoas, minhas fraquezas, minhas formas de fugir de tudo que me fez mal, tudo que foi usado pra me ferir um dia, estava alí encaixotado.
Será que eu que tinha colocado aquilo tudo na minha caixinha? Mas eu nem sabia que aquilo existia ainda e comecei a tirá-los de lá, um por um, revivendo cada segundo de dor, me lembrando de tudo que eu quis esquecer.
E era tanta coisa, eram anos de coisas que eu havia me esquecido de jogar fora, joguei alí bem mal arrumado e era por isso que não cabia mais nada.
Quando terminei de tirar tudo, haviam sobrado 2 borboletas e uns restinhos de pétala das flores. Nem fotos de momentos felizes estavam mais lá, perdi tudo que era tão bom lembrar mas fui capaz de guardar o que seria ótimo esquecer. Eu não conseguia acreditar, aquelas coisas todas tinham que parar de aparecer, estava esfriando meu coração quentinho com histórias velhas e sem real valor.
Peguei tudo e coloquei numa outra caixa, numa caixinha preta, depois de lembrar perfeitamente cada detalhe daqueles objetos eu fiz um pedido, pedi pra nunca mais guardar nada daquilo, pra que minha sorte e minha inteligência mudassem à meu favor e que eu fosse capaz de não dar valor àquilo nunca mais. Tirei com isso, pessoas daquela caixinha, tirei canções, tirei pecados, erros, mentiras e finalmente queimei. Nessa outra caixa eu derramei perfume e coloquei fogo em tudo. Aquilo ia queimando, se apagando de verdade, ia acabando em minhas lembranças e o cheiro do perfume ia ficando no ar. Na minha caixinha de infância, a caixinha branca eu ajeitei delicadamente a borboleta e as pétalas de flor, olhei pra ver se eu não achava mais alguma coisa que era pra estar lá, mas nem se quer eu me lembrava o que eu podia ter guardado.
No meu coração, por muitos anos eu não coloquei coisas que eu devia ter colocado, coloquei pessoas e tudo o que elas me fizeram de ruim e não coloquei o que de fato merecia um lugar. Hoje, corações merecedores do meu, pediram um lugar pra ficar e eu quase não pude dar esse lugar, pois ele estava lotado de sujeira e coisas velhas. Fiz a faxina que era precisa, de verdade mandei tudo pra um lugar onde nunca mais vou precisar ver, aprendi que não se deve esquecer na cabeça e guardar no coração, pois um dia, tudo isso será visto novamente, lembrado pela sua memória e mais uma marca será feita no seu pobre coração machucado.
Aprendi à olhar com olhos de certeza o que é constante e passa insignificante no nosso dia-a-dia, aprendi a ficar com olhos brilhantes num abraço, a sorrir e fotografar com o subconsciente cada momento feliz, a separar o que é útil do que é fútil, o que é valioso do que é inútil.
Algumas borboletas e flores chegaram, quando chegou a primavera em mim, agora que eu cuidei da minha caixinha e a deixei espaçosa e bonita, posso convidar os verdadeiros e os bons pra ficar.
Cuide bem do seu coração e o segredo eu te conto, não é correr atrás das borboletas e sim cuidar do seu jardim pra que elas venham até você e queiram ficar. Pra que venham com flores, sorrisos e amor, pra que façam você florescer!
Agora uma pergunta... vc existe mesmo??? Pois a impressão q tenho a cada dia é q vc não é normal... isso não quer dizer "anormal", mas sim feita em uma moldura única e de melhor qualidade.
ResponderExcluirVc fala que nossos corações são caixinhas q guardamos coisas boas e ruins. Certo, mas qdo te vi pela primeira vez, eu vi q realmente vc era um tipo de caixinha, na verdade uma concha com a pérola mais linda do oceano que se abriu e começou a cantar e a brilhar. Pena, q minha camera não conseguiu captar akele momento, mas o meu coração q tbem é uma caixinha te guardou pra sempre e agora não sei se vc é uma pérola ou uma sereia ou alguma deusa do oceno que com sua voz e suas palavras nesses textos reclama da normalidade ou embeleza e torna esse meu mundo normal interessante! Beijões vc é cada vez mais espetacular!!! Ass: Eder