No meu bolso um cigarro, um único cigarro molhado, minhas botinhas sujas de lama, pularam muitas poças, na mão uma garrafa de conhaque. E eu não queria sentar em algum banco e me perfumar de fracasso, eu não queria provar que o que eu via em mim era uma verdadeira mentira assim como meus olhos viram. E a vontade de te deixar me fazer bem ia crescendo, a necessidade do seu bom amor começava alegrar meu coração. Eu queria seguir com aquela garrafa na mão até chegar nos seus braços, queria usar aquilo pra nos aquecer, eu sabia que ia ficar quentinha no seu abraço, sabia que eu sairia de mim e esqueceria tudo quando eu colocasse minha cabeça no seu peito, de botinha eu ainda alcançaria seu ombro e ia deitar, chorar um pouco enquanto você estivesse fazendo carinho no meu cabelo.
Mas eu parei alí, de repente, cansei. Me sentei na calçada mesmo, desistindo perguntei à lua por que ela chorava, achei que só eu estava triste e se era por que as estrelas tinham à abandonado. Ela não me respondeu, fez um silêncio tão magoado e ela chorava, chorava com um sentimento de partir o coração, uma preocupação que não me fazia sentido e eu não queria deixá-la sozinha alí, me levantei pra mostrar pra ela as flores da pracinha e percebi que ela estava me seguindo atenta, fui andando, debaixo da insistente chuva e a lua continuava alí, foi quando eu entendi que eu não estava sozinha pois ela mesma estava alí o tempo todo só não tinha dado atenção, mas ela não me respondia, tão quieta estava, eu acabei me sentindo desprezada, pedi desculpas e disse que seguiria ao seu lado apenas em silêncio.
Talvez isso tenha acontecido com ela, alguém silenciou quando ela quis falar e ela decidiu desistir e calar, mas foi mais simples assim, já era a segunda vez que eu estava a falar com alguém que parecia não me ouvir naquela noite, apenas tomei coragem e voltei a seguir rumo à sua porta.
Cheia de sonhos em meu outro bolso, fui rumo ao que eu nem sabia se realmente existia, o que era real então? Eu não plantei essa decepção em meu peito, apenas calculei errado minhas necessidades, achando que eu precisava de menos, quando o que eu queria já era quase lenda nos corações. Mas, você ainda era uma certeza pra mim, não? Você ainda era algo que eu podia acreditar, você ainda era minha esperança.
Era sim, minha força, a minha única paz e quando me dei conta eu corria, com as botinhas chutando o chão e as pedrinhas, eu fui perseguindo o arco-íris em mim que me levava até você.
Meus olhos quase nem viam ao certo, tão confusa era a mente, mas foi quando eu vi, eu vi você e sabia quem era por que brilhava! Aí a lua sorriu. Eu não entendi por que e você me contou com suas palavras sempre doces, que tinha pedido pra ela me olhar sem se distrair, pra me levar até você não importasse o que eu dissesse, pra se calar se preciso fosse pra eu não conversar e parar no meio do caminho e ela te disse, que só voltaria à sorrir quando a minha alma cheia de dor tivesse alegria novamente. E quando eu te vi meu amor, esqueci tudo, tanta dor nem fazia mais sentido tamanha a certeza de que a verdade ainda existia e ela era O MEU AMOR POR VOCÊ!
E a lua pode sorrir novamente e eu pude ter a paz, nos braços do seu abraço. Não valeria tanto o cansaço e a coragem de acreditar no amor, não fosse você fazer isso ser real em mim. E tudo fez sentido, fez morada e fez abrigo, me aqueci de amor e alegria por estar alí e nessa noite entendi de verdade que o que mais importa não está nos olhos e sim na alma. Você me ensinou, você me salvou!
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