Brincos, unhas, perfume e batom. Tudo no lugar. A bolsa, as chaves, o Malboro e a buzina. Eu saio saltitante, como uma gazela, e vou ao encontro de mais uma esperança. O convite dessa vez foi bem diferente. Nada de jantar, cinema, motel ou bar. Um show! E lá fomos nós. Cadeiras cobertas, cerveja na mão, o cantor no palco, nem uma letra em minha mente. Um Malboro me esperando na bolsa, louquinho pra ser sugado pelo meu pulmão de lady. "Você vai fumar?", que tipo de pergunta é essa? Se o cigarro está entre meu dedos, o isqueiro nos dedos da outra mão com o gatinho apertado, é quase todo caminho andado pra resposta que ele quer ouvir. Ou não.
Vi um franzidinho na testa, uma entortada na boca e uma distanciada típica de pessoas geração saúde.
"Vou fumar sim! Quer um?", e aurea de reprovação permaneceu. Nessas horas eu começo a me perguntar, por que não fizeram todos os homens sem sensores? Se é o perfume doce, reclamam, se eu estou gorda, avisam, se a sola do pé não está uma pedacinho de soft, advertem, se a minha voz é muito aguda, se irritam, se eu fumo, me abandonam.
Contornei a situação, com o fim da noite predestinado em minha mente. Um beijinho no rosto e um tchau digno de uma pessoa sentida que entra em casa e não volta mais.
Todo o resto já virou um saco pra mim alí. Credo! Cara chato, sem graça, certinho, ranheta, chiliquento, que pirraça!
Mas ele é tão charmoso...
Talvez, por hoje, eu possa não fumar mais, vou fazer um agradinho.
É unha esperando pra ser roída, salto que não para de batucar no chão, joelhos inquietos fazendo a dança do Lago do Cisne, enrola cabelo daqui, coça a testa de lá. Ansiedade, tensão, mágoa, desespero, trauma, depressão. Quero um cigarro!!!
Um só e eu seria tão feliz...
Mas já está acabando. Depois daqui vai rolar um sexo maravilhoso, eu sei, e toda essa tensão vai acabar.
Good Night Brazil! E o tão esperado FIM-DO-SHOW.
"A noite foi maravilhosa!", eu falo com aquele sorrisinho de Miss Brasil, lembrando por dentro do quão crápula, machista e insensível ele foi com meu vício.
Meus Malborinhos na bolsa, com aquele sabor de pavê de chocolate, decepcionados com minha fraqueza e traição.
Eu menti. Me enganei e os enganei, só pra ter com quem me roçar no fim da noite. Agora já está feito. Foi cruel da minha parte, mas os meninos vão entender.
Motel! Vira a direita, entra com o carro. Minha cabeça já começa a liberar a endorfina, a dopamina, a noradrenalina, a morfina, a serotonina e todas as inas que tavam em baixa até agora.
E dá-lhe adrenalina! Tira a roupa, se joga na cama, arranha as costas, abaixa as calças, pega a camisinha e...
E cadê? Cadê???
Ele se levanta sem a menor cara de decepção, me olha, pede um cigarro, me larga na cama, à margem de mim mesma, com meus milhares de hormônios à mil, vai pra varanda e fuma.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
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