De meus dedos saem mágica quando escrevo tudo que sinto, é distante do natural o que se passa dentro de mim, porém agora, há dias não tenho palavras, há dias não consigo ao menos expressar um terço do que há em minha mente, estou tentando forçadamente expor o que sinto agora, mas não encontro um meio de atingir o âmago.
A alma. Como posso por a verdade de minha alma em meus lábios, se não posso alcançá-la? Onde está o caminho, onde está a porta? Tudo ficou escuro, eu encostei no canto do corredor, sentei, deitei no chão, abracei minhas próprias mãos e coloquei minha cabeça nelas. Uma lágrima escorreu negra, não refletiu neon, pois não havia se quer luz. Foi um sentimento de explosão, de que a qualquer momento tudo para dentro de mim e não posso mais nada, não sei mais de nada, não faço nada.
Sabe o que eu queria? Achar palavras suficientes para te explicar o que está aqui dentro, por que quando você chegou, você trouxe todas as palavras pra mim e agora que vou te dizer pra ir, já senti que elas fizeram as malas e se foram na matutina. Você me seqüestrou a calma sem nem me dizer qual era o resgate, a estabilidade, a nitidez nas frases. Pela simples malvadeza de conseguir estar. E esteve. Finais sem rima, o mundo ficou sem um assunto certo, uma visão correta de tudo, um sentido pras esquinas e pros faróis. Numa grande avenida de Londres eu posso te ver, como se eu encontrasse alguém na Augusta e dissesse que nunca encontrei alguém assim fora de lá.
Eu tenho aqui dentro, vários questionamentos e várias icógnitas pra lhe falar. Ainda há tempo depois do pôr-do-sol, sendo o gramado vasto e a vida tão louca. Eu preciso te dizer adeus, talvez mesmo sem palavras pra poder explicar o por que, mas preciso dizer que não posso mais, por que aqui dentro tenho que deixar tudo pronto, um dia as palavras voltarão e não serão pra você nem pra ninguém. E eu vou poder me levantar do canto escuro e caminhar com luvinhas de frio em Londres e terei cadernos e cadernos, páginas milhares, falando sobre um tempo de silêncio, que passou.
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