terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

zona sul, sampa, terra, vênus.

Eu chego em três horas. Eu arrumei o cabelo pra chegar linda, mas o calor estragou tudo. Fiz a unha, mais as malas já borraram o vermelho gabriela que eu pincelei. Pincei a sombrancelha. Pincelei e pincei. Pensei em desistir, pensei em chegar logo. Desesperei. Já me enchi de perfume, perfume caro, daqueles com cheiro de paixão, que é pra deixar lembrança. Vou retocar no aeroporto pra garantir. Já enchi minha boca de todas as palavras mais descoladas e sedutoras do mundo pra te conquistar e tô quase as engolindo pra passar essa dor de barriga de nervoso.
Eu não tô pronta. Não tô pronta pra te ver e te dizer isso que pensei durante esses meses aqui. Quanto eu queria naquelas noite laranjas da bahia, dividir meu encantamento infantil pela lua, com você. Quanto eu queria te ouvir falar aquelas palavras bonitas, me olhar de dar calafrios, como quem vai sugar a alma pelos olhos e entender, como num passe da mágica, tudo. Entender tudo que eu nunca nem disse e nem precisaria dizer. Sou um mistério? Sim. Mas não pra você. Você me lia e me lê até hoje. Cada coisa que eu escrevo eu sei que você sabe que são pra você. Eu sei que você me responde, por que era de você que teria que vir a resposta.
E eu não estou pronta. Pra te contar nada que eu pensei. Tudo isso, parece muito, muito, muito e a palavra muito fica feia aqui. Pensei muito, senti muito. Mas o que temos, sem palavras que definam, nem arestas que dimensionem, não é muito, nem pouco. Nem sei se é. Abstrato. Mas eu ia gostar de estar com você, por aí de mãos dadas. Ia gostar mesmo, seu cheiro no cangote me fazendo cócegas. Eu ia gostar.
Mas não estou pronta. Não consigo comer. Tô quase pra desmaiar, por que além do tudo e do mais ainda está um calor absurdo. E eu não sei lidar com isso, só sei lidar com meu caderno, cheio de sonhos grafites. Mentira! Nem com ele eu seimlidar tão bem assim, vez ou outra eu rasgo umas idéias sonhadoras demais e as substituo por colagens de revista de gastronomia.
Faltam agora, talvez umas duas horas e meia. E quando você aparecer na recepção do desembarque, com sua cara de homem, sua voz de homem, seu jeito de homem seguro, bonito e confiante, eu vou ter vontade de te pedir que volte de onde veio e que espere mais cem anos. Eu queria me preparar mais, deixar tudo redondinho, certinho, na ponta da língua pra ser dito. Queria estar linda, de cabelo esvoaçante, vestido florido, cheirando flores dos campos da Índia, mas não. Estou de pretinho básico, suada, com olheiras de panda, cara de nervosismo e a unha que era vemelha...eu já roí.
Não deu tempo de eu virar mulher.
Eu vou ter vontade de pedir que você me carregue no colo, me coloque no fusca e me leve até a casa da minha mãe e me entregue pra ela. Eu queria tomar água com açúcar na casa da minha mãe.
Escrevo isso e choro. Porque quero tanto e não quero tanto. Porque se acabar morro. Porque se não acabar morro. Porque sempre levo um susto quando te vejo e me pergunto como é que fiquei todos esses meses sem te ver. Porque você me entedia e dai eu desvio o rosto um segundo e já não aguento de saudade. E descubro que não é tédio mas sim cansaço porque gostar assim é maratona no sol e sem água. E ainda assim, é a única sombra e água fresca que existe. A gente não tem fim. Não teve começo, não tem meio - quanto mais fim. A gente é isso aí que é.
Agora é menos de menos de uma hora que falta pra falta acabar. Preciso terminar esse texto. Mas eu tenho medo, sobretudo, de terminar esse texto. Sobre o que eu vou escrever se você for melhor do que esperar por você?

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