terça-feira, 29 de setembro de 2009

Medos

Eu ando me sentindo estranha pra ser sincera, cheia de uma coisa toda pra dizer e pra sentir, mas tem horas que não cabe no meu coração tudo isso e ela sai pelos dedos criando raízes e voando pra longe de mim, me perco, de meu próprio controle.
Fico sem saber o que fazer, como se as palavras fugissem de mim, e saíssem correndo pela Avenida Paulista, atravessassem as ruas pulando e eu não fosse capaz de ir atrás.
Tem dias que eu me acho totalmente bipolar, mas vai ver é só a confusão de sentimentos novos, tem algumas coisas que a gente precisa aprender a lidar, tem outras que a gente precisa a conviver com facilidade, mas tem horas que simplesmente não dá.
Tem horas que me sinto no meio, num x, como se estivesse entre a Bela e a Santos, numa encrusilhada entre minhas felicidades e meus medos, a merce de ser atropelada pelo amor. Cheio de velocidade e com seu motor super potente, eu o vejo passando por cima de mim e dando ré pra se garantir de ter me amassado bem.
Por que na verdade, é sempre assim, no auge dos sentimentos mais felizes vem a tal da pulga, a insegurança e esta, sem ter ao menos piedade massacra nossos sentimentos, faz tudo que é lindo se tornar duvidoso, faz tudo o que é coragem virar cisma, faz tudo que é vontade, virar medo.
Eu luto contra, com todas as minhas forças, mas de vez em quando as palavras soam estranhas dentro de mim, como algo que talvez eu não seja capaz de não acreditar.
Tô afim de ficar cega, afim de não saber de mais nada, de simplesmente ignorar todo e qualquer fato que vá atrapalhar minha felicidade, ando sentindo uma necessidade enorme de ser alguém com mais coragem, ando precisando de mim por inteira, da menina completa, ando querendo viver.
Quero tanto, que talvez eu resolva a qualquer hora pular do alto de mim e eu me mate.
Me livre dos meus fantasmas, do meu ego, do meu passado, das mentiras que me contaram e talvez assim, morta, eu volte à saber o que é a vida.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Mulherzinha

Ligo antes das cinco pra não parecer que ele é a última opção da minha agenda. Dou três opções de restaurante e ele escolhe logo a primeira. Combino de passar umas oito e meia, mando uma mensagem quando estiver na esquina. Aviso que vou atrasar dez minutos. Embico na garagem pra ele não tomar chuva. Pergunto se o ar condicionado está muito forte. Dirijo com uma mão no volante e outra na perna dele. Elogio que ele aparou um pouco a barba, coisa que ele adora pois fui a única a reparar. O manobrista do restaurante abre primeiro a porta dele. Se assusta que é um homem onde eu deveria estar sentada. Entrega o papel do estacionamento pra mim, contrariado, enquanto meu parceiro já está bem distante. Escolho fumante pra agradá-lo mas por sorte sou informada que essas mesas não existem mais. Digo a ele que tudo bem, podemos ficar no frio, na parte de fora. Ele diz que ELE não está a fim de sentir frio e topa não fumar. Eu chamo o garçom e digo que para mim carne e para ele salmão. Eu escolho a taça de vinho dele, eu não vou beber porque estou dirigindo. Eu pego na mão dele, depois da taça estar quase no final, e pergunto se ele não quer ver a linda vista da minha sacada. Ele sufoca um bocejo charmoso e diz que sim. O garçom entrega a conta pra ele, que aperta os olhos pra enxergar com a lente embaçada. Eu ofereço ajuda pra ver os números e numa agilidade impressionante enfio meu cartão ali dentro e faço a carteira de couro desaparecer da mesa. Incluindo o ticket do estacionamento. Ele está com frio e ofereço meu cachecol novo. Ele elogia o perfume e continua com frio. Entendo que são duas aberturas para o abraço. O carro chega e a porta dele já está aberta pelo manobrista, a minha eu mesmo abro com dificuldade porque os carros tiram a maior fina do meu corpinho congelado. Morro de vergonha que o carro está com cheiro ruim, pra variar, o manobrista sacaneou. Abro os vidros e não digo nada pra não ser rude. Coloco música baixinha pra gente falar baixinho. Paro na farmácia pra comprar camisinha mas dou a desculpa que é um antigripal qualquer. Ele faz que acredita e espera dentro do carro comportadinho e sorrindo. O cara do caixa quer me lançar um olhar mas na hora tem medo de me encarar. Acendo as velas novas que ganhei. Coloco minha estrela azul na tomada que dá o clima perfeito. O cd novo do Beck. Ele está nervoso, comentando sem parar das minhas fotos e livros e cortinas. Eu faço ele parar de falar finalmente. Depois de tudo, ofereço levá-lo e me faço de ofendida quando ele cogita um taxi. Ele pergunta se pode dormir comigo, eu apenas sorrio e apago a luz. Ele acende a luz e pergunta se pode ligar pra avisar uma pessoa. Ele liga pra mãe, que não gosta muito. Ele volta envergonhado pra cama. Mas eu, educada, finjo que já estou dormindo. No dia seguinte eu ligo pra dar bom dia. Ele me avisa que vai viajar no feriado. Eu pergunto com quem e ele diz que aí já estou querendo saber demais. Ele volta a ser homem. Eu desligo e, aliviada, choro como uma mulherzinha.

Você tem nome

Eu gosto de como você se empresta para a minha vontade de sentir de novo. Saio da sua casa feliz porque estava frio e roubei uma blusa com duas respingadas velhas e já lavadas de óleo.
Eu gosto da sua barriga porque você consegue a santíssima trindade da barriga perfeita: maduro, intelectual, sarado.
É o labirinto onde eu fico quando você acha que eu não estou ali. Entre seus ossos e músculos.
Você é um preguiçoso, espalhado tão elegantemente com as cuecas largas, em seu sofá com almofadas de mocinha. Absurdamente animado com milhões de coisas maravilhosas que você lê ou escuta pela metade, querendo saber tudo ao mesmo tempo pra esquecer mais rápido e de uma vez. Querendo não saciar das coisas, pra caber mais do resto todo que nunca chega. Você tem a noção mais bonita de insuficiência e exagero que já vi. Você tem o desapego pós empolgação menos levado a sério que já vi. Mas isso tudo é escondido pelos seus olhos de desligamento.
Você tem todos os gominhos no lugar como se fosse um garoto de academia. Isso me faz rir embaixo do edredom, olhando a tirinha suicida do meu sutiã que se jogou solitária e antes da hora. Você fez a escolha da vida dos homens desgastados e pra dentro, mas é como se os deuses te mandassem, ainda assim, doses diárias de uma beleza que me surpreende a cada vez que tento te transformar em qualquer coisa da minha tarde. Não precisa pente, banho, esteira, sol, peso, gilete. Você acorda naturalmente com a beleza que eu só tenho, ao acordar, se acordar duas horas antes.
Eu gosto de você porque são tantos milhões de coisas que você sabe, mas você fritou e não diz nada. Você sabe tanto que tem preguiça. Eu percebi que minha ansiedade é a típica da garota boba que leu nove livros, sabe de sete músicas, viu quatro filmes, conhece dois lugares e acha que ainda ama um homem. Quem sabe mesmo, nem começa a dizer.
Você faz com você o que faz com todos os livros. Para na metade. Assim sobra tempo de assassinar minha roupa e depois dormir enquanto eu conto os pedaços pela casa. Meus e das minhas histórias.
Então eu gosto de você, de novo, porque não falamos nada. Você porque dormiu de novo ou quer demais. Eu porque quero de novo ou dormi demais. Você porque sabe muito. Eu porque não sei porra nenhuma.
E o portão enorme de vidro se fecha com você meio curvado, malditas costas. Faz minha vigília até o carro como um pai e isso me dá vontade de voltar. Parece errado, mas pra mim, pros defeitos que me formaram e por isso mesmo é só o que posso sentir quando sinto sem script, sinto que as plantas estão onde deveriam. E meu carro, e tudo. Se encaixa. Eu sou o senhor cabeça de batata esperando seu bigode encaixar em mim pelas mãos das crianças que nunca deixam de brincar com os velhos brinquedos de verdade. De novo, levando a pureza bem a sério pra pelo menos existir um pouquinho em meio a tudo isso. E eu, você não sabe como te agradeço, vou escutar música alta no carro e nem reparar que o sinal abriu.

Eu só queria saber

Uma dia eu me perguntei porque ele não mais me ligou.
E me perguntei tanto que quando eu o vi, quando tive a assombrosa oportunidade também tive que perguntar à ele. E foi quando ele olhou pra um chiclete chinfrim no chão e pensativo me disse:
- Não te liguei porque você disse que eu andava como alguém que esconde que já foi gordo, ria como alguém que precisa ser aceito apesar de ter nascido muito pobre, dava linguadas no ar como um sapo querendo pescar pequenos insights para impressionar mocinhas, espremia os olhos como um míope que não aceita as próprias limitações, estalava os dedos como quem tinha perdido a hora do soco, pegava como um homem que perdia perdão por ser homem, dirigia como um ejaculador precoce, mudava as estações do rádio como um infeliz que tenta até o fim, penteava o cabelo para trás como um estilista histérico, falava devagar como um estudante fritado de tanta maconha, enfiava a mão em você como um inexperiente que odeia a ex namorada, beijava como alguém que queria dormir de tédio assim que conseguisse qualquer coisa, lambia como um peão mal educado e morrendo de calor, gemia como alguém que tenta expulsar algo dos pêlos do nariz, dormia como um bebê com tromba de elefante e fazia xixi como um elefante com tromba de bebê.
E ele se foi e me deixou por alguns segundos encarando o mesmo estorricado chiclete velho da calçada. Naquele momento eu aprendi três coisas para o resto da minha vida: eu era bonita, eu era insuportável e eu era uma escritora.
O mais maluco é que fiquei feliz e vitoriosa como se tivesse acabado de ganhar uma aliança de amor eterno, seja lá o que isso quer dizer.

Amor

Muitas são as vezes em que tentamos dizer não, por algumas vezes até somos capazes. Dá pra negar pra todo mundo, dá até pra negar pra nós mesmos, só que, se enganar, é um trabalho árduo e esforço inútil.
Uma hora o que era gostar, vira querer, que vira saudade, que vira pensamento, que vira felicidade, que vira amor. Amor a gente não esconde. Confuso que é, trapaceiro que é, pega a gente desprevenido, nos coloca de ponta cabeça num aquário e tenta nos afogar. Até que a gente abre a boca e fala, pros quatro cantos, fala gritando até, por que já que é pra ser dito, que seja dito com todas as letras e em caixa alta: estou amando sim.
Assim que a gente acaba de falar, vem um sentimento de ser o alguém que falou mais alto quando todo mundo ficou quieto, quem falou besteira que não era pra todo mundo ouvir. Mas, de fato, o susto maior é pela descoberta, quando nos pegamos amando o mundo parece ser novidade, a gente vira bicho perdido na floresta, vira bebê recém nascido, vira uma pessoa apaixonada.
Apaixonados são bobos, são gente burra, que não sabe nem o caminho de volta pra casa, pessoas tão desnorteadas quanto uma bússola quebrada e são esses, os mais felizes. São esses que cantam "I can´t take my eyes of you", são esses que acham graça em cada detalhe da natureza, no pôr-do-sol que nunca tinham reparado, no cachorro latindo, no lindo gato folgado, no bichinho no catchup. Que lindo é o céu da minha boca, cheio de palavras estreladas, o balanço que tem no parque, as frases melosas e amorosas, os abraços de moleton, os beijos de verão.
Tudo se torna tão colorido quanto o mundo de Alice e a alma fica florida. Os segundos ficam eternizados, em momentos que são insuperavelmente mágicos. O porta-retrato, com a foto dele, o sorriso que não devia ter ficado sem um beijo, o olhinho pequeno de quando ele sorri, o cabelo bagunçado, a correntinha no pescoço, as carinhas de felicidade, as promessas de abraços longos e beijos na testa.
Cadernos podem ser escritos e de fato cada conversa deveria ser anotada, são livros que venderiam milhares de cópias, tanta identificação os outros apaixonados encontrariam. Tem momentos de silêncio, calados por dúvidas, por saudade, por um beijo ou simplesmente por um olhar tagarela. Daquele que conta que na nossa alma as coisas andam diferentes do que a boca medrosa está querendo falar, aqueles que nos entregam algemados pro outro coração, nos dá de bandeja pra que o amor faça o que bem entender.
Todos deviam se privar do amor, deveriam evitar sentir, deviam tentar não se envolver com essa coisa, pois é quase um crime. Todos deviam negar se apaixonar, deviam querer não enxergar o seu igual, pra que o amor os pegasse de surpresa e mostrasse que com ele não se brinca.
Todo mundo devia ser controlado pelo amor um dia, devia ficar burro, devia enxergar sons, ouvir cores, dançar salsa, merengue, cha cha cha, rumba, devia querer ir pra escócia ver homem de saia, devia querer ir pra holanda pra tirar leite de vaca, devia sentir, ao menos um dia na vida o que é querer o mundo todo em suas mãos e sentir que é capaz de tê-lo.
Se cada um, ao menos um dia na vida, fosse manipulado pelo amor, se despisse de suas armaduras, se sentisse impotente e se deixasse como um barco à vela, seguindo o rumo do vento e do mar, haveriam pessoas sempre capazes de colocar em um único abraço, toda sua vida, sua história, seus medos e alegrias. Seriam capazes de viver, isso que se chama vida entendendo que mesmo não sendo de princesas e de príncipes, os nossos sonhos podem ser reais, como são nos contos de fadas, como nossa vida com amor, pode ser.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Pra ele

Existe algo pra ser falado
E minha cabeça está dando voltas
As palavras não podem ser vagas

Milhares de sons e cores
O mundo ao meu redor
Os signos e as estações

E eu espero saber como dizer
Sem eu mesma poder entender

Que fiz essa canção pra alguém
Por que estou amando
Tudo indica que é isso
Essa canção é para o amor

Com as poucas palavras que tenho
Capazes de descrever o que sinto
Tento dar sentido

Mas quando o amor souber
Que eu fiz uma canção pra ele
Talvez queira me ouvir cantar

E eu espero saber como dizer
Sem eu mesma poder entender

Eu fiz essa canção pra alguém
Por que estou amando
Tudo indica que é isso
Essa canção é para o amor

Outra palavra não ia ser exata
Pra falar o que estou sentindo

Encontrei o amor

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Me conhecer

Ele disse: é, te conhecer de verdade. Ver se a gente se dá bem mesmo, confirmar o que eu penso de bom sobre vc, que é certeza que vou, mas ainda me sinto inteiramente curioso sobre você.
Muito estranho de entender?


Eu disse: não.
Por que eu sei bem quem eu sou e eu sei que eu causo isso, tão clara que eu sou, que deixo dúvidas.
Eu me impressionaria se eu visse todas as facetas que tenho, todas tão claras e tão confusas. Gosto na verdade é de me enganar, gosto de pensar que sou uma coisa quando sou outra e depois passar a ser as duas, de verdade e de mentira. Sou muitas e todas me completam. Não me engano não, eu me orgulho disso tudo que sou, por que todas construiram em mim uma mulher segura e me deram total direito de ficar fraca hora ou outra e ser mulherzinha, por que sei, que depois fica fácil pra eu retornar à minha realidade. Não tenho que ser uma só e na verdade tudo que sempre busquei agindo assim, é o que sou hoje, feliz. Isso me faz singular, sendo tantas, sou ainda assim singular, por que minha capacidade de me adaptar e mudar tudo toda hora, me fez ser tão forte e corajosa quanto todas. Eu tenho vários problemas, muitos deles eu escondo pra ninguém saber que eu tenho e outros aprendi a lidar, assim tento me mostrar perfeita. Não sou. Não sou nem tão insensível quanto pareço, indiferente, fria. Não sou.
Eu sou totalmente mole, apaixonável, insegura, tímida, esperançosa, espero por um amor lindo, de rir alto de tanta alegria, de coisa de contos de fadas, de abraçar e ficar feliz, andar de mãos dadas com um sorriso na testa, quero o tal do príncipe encantado, o mocinho que toca violão, o que fala de coisas inteligentes comigo, o cara que olha pro céu estrelado e fica falando que uma daquelas estrelas sou eu, eu sou cafona, pra caralho. Mas as coisas, as pessoas não são mais assim, então essa menina, eu guardei dentro de mim, quietinha esperando o momento de se mostrar. Nem tudo dessa menina, me atrai, mas tem dia, que sinto falta das coisas românticas, um depoimento no orkut, uma msg no celular, uma ligação, uma carta, um carinho, eu espero isso, mas não conto, por que quando conto, eu me iludo.
Mas dessa vez eu seguro a barra, conto aos quatro ventos como uma boba denovo, só pra deixar você e o mundo saberem, tá?

Em meios à tantas Isy's, eu confundo à todos e à mim mesma, a única constante que permanece em mim é a que eu vou contar, pra todo mundo entender:

Sou constantemente mutável, de idéias variáveis, sentimentos instáveis, formas inimagináveis e nada que eu fui, serei com facilidade, por que eu só sei me recriar e viver do inesperado. Corro do que fica parado e não permaneço nunca dentro de uma só pessoa que sou, pra que o tédio não me alcance, pra que o passado não me lembre e pra que as marcas não me desencoragem à seguir e chegar tão longe eu queira ir!





Te saber

Minutos são dias
Quando palavras não vem
Confusas melodias
À espera de alguém

O dono de cada letra
O alguém que ainda não sei
Te sinto, te sei completo
Me apego ao que sonhei

Será que vou te reconhecer?
Depois do inverno, me vi mortal
Quem sabe ao menos possa ver
Que é você, o meu igual

Você me deixa com saudade
Do que ainda nem senti
Me falta cada olhar teu
Aqueles que nem ao menos vi

Te quero bem mais do que sei
Saber tudo que pode pensar
Vontade de te conhecer
Saber tudo que quer me falar