domingo, 26 de julho de 2009

Inverno

Tenho a dizer que me sinto num festival em Cannes. É tanto filme e pipoca que já nem me lembro mais do que é sair pra rua, curtir o verão na praça. Essa coisa aqui dentro que fica feliz com o frio que une as pessoas. Época de moleton e blusas de lã, de abraços fofinhos, macios, de corações solidários pra aquecer as noites frias de uma festa. Sem generalizar nem detalhar sobre sentimentos, amor e verdade. Sem citar nada disso falo apenas das sensações e estações.
É época de amigos unidos no fondue, no vinho e no conhaque, amores unidos nos abraços, nas cobertas, no calor dos corpos, pessoas com esperança de um verão longo e colorido, corações com emoções novas, é tempo de parar pra refletir.
Quando o inverno chega, todo o esforço que foi feito durante todas as outras 3 estações, tem que servir pra te sustentar nessa escuridão e frio. Nada é produtivo, nada que é feito, é feito com o mesmo ânimo de um dia de sol. Um dia de sol é raro.
Aprendi que o inverno de nossos corações é como o inverno das formigas. Trabalham, guardam seu alimento pros dias difíceis chegarem e quando eles chegarem, elas poderão se manter nutridas e fortes. Nutrido e forte? Um coração que sofreu tanto no verão como na primavera não teve tempo pra se preparar pro inverno. E quando ele chega, o que esse coração faz?
É o que o meu está aprendendo agora. Ao contrário de todas as maravilhas do inverno, que são superficiais e artificiais, a sensação de solidão e falta de esperança, não são agradáveis.
Esse tempo de ficar pensando na vida e vendo tudo que fiz, me incomoda de certa forma, por que depois que tudo acontece, que você se dói e tenta fazer a ferida estancar, você ainda precisa olhar pra tudo e pensar. Relembrar? Inverno é tempo de relembrar. Hoje estou olhando aqui pra dentro e vejo tudo tão seco, os galhinhos quebrados, não tem frutas, não tem flores, chão triste, frio.
Eu queria acabar esse texto com uma história feliz, mas dessa vez eu vou ter apenas que olhar e concordar que ainda não saí dessa.
A primavera vai chegar, não demora muito e tudo recomeça, isso passa, isso estanca de vez. Eu sei que em alguma hora eu serei capaz de entender tudo que está acontecendo, talvez tudo isso seja tão necessário agora quanto a minha própria felicidade.
Fases que vem e vão, momentos que nos amadurecem, nos fazem crescer mas antes usam so sofrimento para nos ensinar.
Estações que vem e vão, momentos de amadurecimento, de florescimento, de fortalecimento e de queda, que fazem a natureza sentir profundamente cada uma dessas fases pra completar o cliclo vital.
O inverno quando se vai, deixa as lições.

sábado, 25 de julho de 2009

...decepção e verdade...

Eu fui caminhando debaixo de chuva, molhada, com frio, andando e pensando, talvez um rumo em meu coração, talvez algum lugar em minha mente, talvez nada, às vezes uma certa certeza, ou uma idéia vaga da dúvida. E a chuva caia, pesada, triste, fria. Parecia cortar a pele com a sua tristeza, meus olhos estavam tão molhados quanto minha roupa, talvez a roupa tivesse sido molhada pelos meus olhos e nada fazia sentido. Eu não tinha o que seguir, lugar algum pra ir. Minha memória fazia lembrar momentos tão lindos e felizes, que agora eram vistos com olhos traídos, pesados, parecia que a verdade nunca havía existido, que somente a mentira era real e verdadeira.
No meu bolso um cigarro, um único cigarro molhado, minhas botinhas sujas de lama, pularam muitas poças, na mão uma garrafa de conhaque. E eu não queria sentar em algum banco e me perfumar de fracasso, eu não queria provar que o que eu via em mim era uma verdadeira mentira assim como meus olhos viram. E a vontade de te deixar me fazer bem ia crescendo, a necessidade do seu bom amor começava alegrar meu coração. Eu queria seguir com aquela garrafa na mão até chegar nos seus braços, queria usar aquilo pra nos aquecer, eu sabia que ia ficar quentinha no seu abraço, sabia que eu sairia de mim e esqueceria tudo quando eu colocasse minha cabeça no seu peito, de botinha eu ainda alcançaria seu ombro e ia deitar, chorar um pouco enquanto você estivesse fazendo carinho no meu cabelo.
Mas eu parei alí, de repente, cansei. Me sentei na calçada mesmo, desistindo perguntei à lua por que ela chorava, achei que só eu estava triste e se era por que as estrelas tinham à abandonado. Ela não me respondeu, fez um silêncio tão magoado e ela chorava, chorava com um sentimento de partir o coração, uma preocupação que não me fazia sentido e eu não queria deixá-la sozinha alí, me levantei pra mostrar pra ela as flores da pracinha e percebi que ela estava me seguindo atenta, fui andando, debaixo da insistente chuva e a lua continuava alí, foi quando eu entendi que eu não estava sozinha pois ela mesma estava alí o tempo todo só não tinha dado atenção, mas ela não me respondia, tão quieta estava, eu acabei me sentindo desprezada, pedi desculpas e disse que seguiria ao seu lado apenas em silêncio.
Talvez isso tenha acontecido com ela, alguém silenciou quando ela quis falar e ela decidiu desistir e calar, mas foi mais simples assim, já era a segunda vez que eu estava a falar com alguém que parecia não me ouvir naquela noite, apenas tomei coragem e voltei a seguir rumo à sua porta.
Cheia de sonhos em meu outro bolso, fui rumo ao que eu nem sabia se realmente existia, o que era real então? Eu não plantei essa decepção em meu peito, apenas calculei errado minhas necessidades, achando que eu precisava de menos, quando o que eu queria já era quase lenda nos corações. Mas, você ainda era uma certeza pra mim, não? Você ainda era algo que eu podia acreditar, você ainda era minha esperança.
Era sim, minha força, a minha única paz e quando me dei conta eu corria, com as botinhas chutando o chão e as pedrinhas, eu fui perseguindo o arco-íris em mim que me levava até você.
Meus olhos quase nem viam ao certo, tão confusa era a mente, mas foi quando eu vi, eu vi você e sabia quem era por que brilhava! Aí a lua sorriu. Eu não entendi por que e você me contou com suas palavras sempre doces, que tinha pedido pra ela me olhar sem se distrair, pra me levar até você não importasse o que eu dissesse, pra se calar se preciso fosse pra eu não conversar e parar no meio do caminho e ela te disse, que só voltaria à sorrir quando a minha alma cheia de dor tivesse alegria novamente. E quando eu te vi meu amor, esqueci tudo, tanta dor nem fazia mais sentido tamanha a certeza de que a verdade ainda existia e ela era O MEU AMOR POR VOCÊ!
E a lua pode sorrir novamente e eu pude ter a paz, nos braços do seu abraço. Não valeria tanto o cansaço e a coragem de acreditar no amor, não fosse você fazer isso ser real em mim. E tudo fez sentido, fez morada e fez abrigo, me aqueci de amor e alegria por estar alí e nessa noite entendi de verdade que o que mais importa não está nos olhos e sim na alma. Você me ensinou, você me salvou!



terça-feira, 7 de julho de 2009

Todas as estações

Eu gostaria de não ter motivo pra escrever sobre você, de não ter nem ao menos inspiração para gaguejar, mais gaguejo por todas as lembranças que tenho de cada momento quando te tive próximo à mim. São poucos, todos eles são poucos, pequena parte de tudo que podia ser e de tudo que realmente é. 
Hoje eu me senti perdida num campo imenso, sozinha, sem eira nem beira, nem ter nenhum galho pra me segurar, com uma ventania escura e chuvosa. Me isolei em meio à tempestade quando olhei aquele campo verde e acreditei que seria seguro estar alí, que seria seguro acreditar nos seus olhos, seria sereno te admirar, que seria próprio te desejar em meu mundo, quando o seu estava tão doente. Eu vivi todas as quatro estações de um ano em apenas alguns segundos, nos braços do seu abraço.
Tropecei, caí dentro de você e sinceramente foi apenas um detalhe tão embaraçoso quanto todo o resto que eu poderia dizer. Por favor não vá, não fuja do verão, ele pode aquecer seu coração mais frio e triste que o inverno. Deixe passar a tempestade, deixe as cores voltarem.
Eu sei que é tão melancólico o jeito que eu deslizo por sua pele tão amargurada, te segurando pelas mãos, te pedindo pra ficar, mas quero te pedir pra continuar lutando e acreditando em tudo que vai chegar no fim da tarde. Eu sei que uma hora a chuva vai passar, dentro de mim, dentro de você. Vamos apenas caminhar pela grama molhada, como nossos sapatos pesados, tentaremos correr e ainda vai ser difícil, mas andando mesmo que devagar chegaremos à velha casa de madeira.
Sente aqui, eu vou te cobrir com essa coberta, por favor respire, por favor sorria, por favor. Olhe pra mim, segure as minhas mãos, não desista agora que eu estou aqui, agora que posso te provar o contrário.
É tão escuro e eu estou tão tonta, não existe um lar para hoje, por hoje não há para onde voltar, não poderei correr eu simplesmente vou ter que enfrentar meus medos, meu amores. Esse sentimento imortal que não me deixa viver, é algo que me possui por completo, que usa todo meu ser contra mim mesma.
Agora sou eu quem quer estar, quero apenas ficar, me deixe só.
Não há uma esperança para o amanhã e mesmo assim o hoje não apaga essa figura que tenho de você, contudo o que vi ontem que ouvi susurrarem aos meus ouvidos, sobre suas angústias e seus erros, ainda assim te quero feliz, ainda assim te quero aqui.
Mas vá embora, não posso te ajudar. Vá pra longe e leve os cacos de vidro pra eu não me cortar chorando por mim. Vou me deitar, descansar se puder me esquecer de tudo isso, me desligar de um mundo ao qual não pertenço e não posso mudar.
Vou parar de idealizar, te idealizar perfeito pra mim. Não posso ser pra você tudo que dissimuladamente você é em minha imaginação. Não posso ser seu amor, pois agora você não sabe o que é amar.
Queria tanto te curar, queria tanto tirar esse veneno de suas veias e fazer você abrir os olhos, fazer você sair dessa caixa de fantoches e te ensinar a voar.
Acorde, por favor me diga que você vai abrir os olhos. Não morra, não viva tentando morrer a cada dia, não se esconda atrás dos seus olhos. Ainda posso te ver.

sábado, 4 de julho de 2009

...à bunda...

Olha, desta vez você passou das medidas. Só não boto você para fora, agora, porque é a sua cara dar escândalo. Estou cheia de você atrás de mim o tempo todo. Fica se fazendo de fofa, enquanto, pelas minhas costas, chama a atenção de todo mundo para meus defeitos.
Você está redondamente enganada se pensa que eu vou me rebaixar ao seu nível – o que vem de baixo não me atinge. Mas faço questão de desancar essa sua pose empinada.
Por que nunca encara as coisas de frente?
Fica parecendo que tem algo a esconder. Por acaso, faz alguma coisa que ninguém pode saber?

Você é, e sempre foi, um peso na minha existência – cada papel que me fez passar... Diz-se sensível e profunda, mas está sempre voltada para aquilo que já aconteceu. Tenho vergonha de apresentar você às pessoas, sabia?
Por que você nunca encara as coisas de frente, bunda? Fica parecendo que, no fundo, tem algo a esconder. Por acaso, faz alguma coisa que ninguém pode saber? O que há por trás de todo esse silêncio?
Você diz que está dividida e que eu preciso ver os dois lados da questão. Ora, seja mais firme, deixe de balançar nas suas posições.
Longe de mim querer me meter na sua vida privada, mas a impressão que dá é que você não se enxerga. Porque está longe de ter nascido virada para a lua e costuma se comportar como se fosse o centro das atenções.
Bunda, você mora de fundos, num lugar abafado. Nunca sai para dar uma volta, nunca toma um sol, nunca respira um ar puro. Vive enfurnada, sem o mínimo contato com a natureza. O máximo que se permite é aparecer numa praia de vez em quando, toda branquela.
Não é de admirar que esteja sempre por baixo. Tentei levar você para fazer ginástica, querendo deixar você mais para cima, mas fingiu que não escutou.
Saiba que você não é mais aquela, diria até que anda meio caída. E vai ter que rebolar para mexer comigo, de novo, da maneira que mexia.
Lembro do tempo em que eu, desbundada, sonhava em ter um pouquinho mais de você. Agora, acho que o que temos já está de bom tamanho. E, pensando bem, é melhor pararmos por aqui antes que uma de nós acabe machucada.
Sei que qualquer coisinha deixa você balançada, então não vou expor suas duas faces em público. Mas fique sabendo que, se você aparecer, constrangendo-me diante de outras pessoas, levarei seu caso ao doutor Albuquerque*.
Lamento, isso dói mais em mim do que em você, mas você merece o chute que estou lhe dando. Duplamente decepcionada.


Fernanda Young