segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Intensidade

Você é capaz de tomar um sorvete quente?
Você gosta de tomar café gelado?
Se é pra nadar que o sol esteja muito colorido, não?
E se é pra passar o fim de semana em casa por que está doente, então que o tempo colabore e fique bem chuvoso e com cara de tarde de filme.
Ninguém compra uma calça pela metade, nem come arroz duro ou sem estar temperado.
Ainda não conheci ninguém que gostasse de fogo que não queimasse, nem de água que não molhasse.
E é por que as coisas não são pela metade. Se nada é pela metade, como é possível quase viver ou quase morrer?
Quase sentir ou quase não ter. Quase é algo que tem apenas essa explicação: demonstrar algo que ainda não chegou lá, mas que tem que chegar.
Nada acaba sem ter terminado, nem chega no meio sem ter começado.
Eu não sou capaz de viver meus sentimentos pela metade, não sou capaz de me precaver pra não me envolver, de estar e não desejar, de olhar e não sugar a alma.
Preciso do louco, preciso do incoerente, preciso sentir, preciso tocar, tenho a necessidade de viver décadas em dias, de fazer textos em minutos, de me expressar em livros, de ganhar pessoas por um todo e se não for assim não me satisfaço por completo.
Nunca gostei de ter alguém quase que por inteiro ou quase não ter nada. Quero tudo. Ou nada. 8 ou 80. Danem-se os clichês, de quem fala da minha impulsividade, dos horóscopos que criticam as escorpianinas por serem assim, eu sempre fui conhecida por não passar vontade e não tenho do que reclamar.
Deito na cama sem ter perdido tempo, fecho meus olhos agradecendo por ter coragem e sei que poderia morrer agora por que tudo que fiz foi viver, se a vida é isso fiz jus ao que me deixaram fazer.
Queria apenas entender qual é a graça de não deixar sentir. Qual o prêmio de quem não deixa o sentimento tomar conta e consegue não se envolver com alguém. É uma vitória sair ileso da alegria? Ou é uma derrota sair machucado pela decepção? Decepção é uma palavra natural na minha vida e eu convivo bem melhor com ela do que com a palavra QUASE.
Fui, vi, sofri, vivi, senti, chorei, me machuquei, me decepcionei, me joguei no chão, me acabei, dormi, esqueci, xinguei, mas não virei as costas.
Não ignorei, não menosprezei, não deixei passar, não me arrependi.
E depois? Me levantei, lavei o rosto, passei maquiagem, fui cantar, dancei, me apaixonei, conheci, senti denovo, vivi denovo, abracei, beijei, fiz sexo, fiz amor, fiz as cores no meu céu, pintei um quadro da minha vida e sorri.
Não há nada nesse mundo que não passe e não mude. Não há nada nesse universo que seja insubstituível, não há ninguém nessa vida que seja tão bom assim, nem tão mal. Mas existem pessoas intensas, que resolveram viver custe o que custar e que não tem medo de assumir que dentro tem um coração, pulsante, errante, transparente, quente, vivo.
Não espere do meu olhar algo razo, eu quero ver seus ancestrais em seus olhos, decifrar todos os seus mistérios e suas glórias, suas falhas, suas vitórias. Quedo dissecar a alma, chegar no âmago de todas as suas palavras, entrar em sua mente de uma forma que você nunca vai me esquecer. Entrar eu seu coração de uma forma que você vá me odiar mortalmente ou me amar loucamente.
Não sou mais ou menos, não sou metade, não sou morna.
Não espere de mim algo que eu possa fazer melhor. Surpreenderei.
Não me diga como as coisas são. Eu encontrarei outras formas.
Não me mostre o que você tem, se orgulhando. Eu vou menosprezar seus poderes te mostrando o real valor da vida, por que eu sei que há muito mais além do seu carro. Existem pés descalços! Existe mato, terra, natureza. Existe mais além do que suas roupas de marca. Existe corpo, pele, nudez, toque, sensações. Existe mais além do que seus métodos. Existe inovação, existem surpresas, o inesperado, o misterioso, o interessante.
Não me venha com futilidades e sentimentos mesquinhos. Quero e tenho muito mais a oferecer.
Mas me diga como fazer. Por que procurei nessa vida todas as formas e quero quantas mais eu puder aprender, quero saber todos os caminhos, conhecer tudo profundamente, sentir tudo centímetro por centímetro na minha pele, por que uma única coisa de tudo isso não muda: quero a cada piscar de olhos, viver.

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