quarta-feira, 16 de junho de 2010

Máfia do amor.

Tem momentos em que eu queria ter poucas palavras. Eu me viraria com apenas aquelas, básicas e não iria me perder em explicações complexas e irrelevantes, sobre o que eu acho do amor.
O amor é uma besta desenfreada, é um bicho não castrado, é uma cobra venenosa, é um infarte, um desastre, um caos, uma erupção vulcânica, é o lado mais maudoso da vontade de qualquer criador, é a maior perfeição imperfeita que existe.
E eu adoraria não tê-lo conhecido, nem ao amor, nem aos olhos azuis. Que são coisas distintas, mas inspiram a mesma quantidade de pecado e paixão.
A diferença entre o suposto amor e os tais olhos azuis, é única e exclusivamente quanto um se contem no outro. E tem também o quanto eles despertam de desestabilidade em seres inocentes, indefesos e que gostariam de estar mais anônimos que um trombone.
Nós, esse pobres seres, somos estraçalhados feito bifes, sem o menor escrúpulo e retidão mediante a infestação desses sentimentos. O amor e os olhos azuis. Ambos, sentimentos.
O amor, é um sentimento até que bonito, coisa que diz-se pura e benéfica, que trás alegria e plenitude. Os olhos azuis, um sentimento de charme ímpar, diz-se verdadeiro, sensato e firme, que está aqui pra nos fazer bem e nos ajudar a passar essa vida com mais diversão.
Os dois, charlatões.
O pior é que o amor vem em bando e por hilário e irônico que seja esse sentimento plural, "olhos azuis", vem sozinho. E perfura nossa paz, nosso sono, nossa clareza e decência moral.
É pior do que o próprio diabo e mais forte que a própria essência da palavra tentação.
E cá ficamos nós. Mudos e sem descrição - como vocês podem perceber - daquilo que passamos a sentir.
Eu não quero mais viver assim, estou pensando numa macumba, numa oração, num passe, numa tentativa de me livrar do encosto e me ver bem longe desse negócio do outro mundo. E eu sei bem que vou conseguir, esperta que sou, vou sair à francesa disso como se nada tivesse acontecido e ainda vou sair cantando o hino do Azerbaijão pelas ruas só pra satirizar.
De todo esse mal que ele me fez, tem um revelador e que eu considero o mais cruel. Esse sentimentozinho infeliz, desse tal de "olhos azuis", me fez reviver. Eu que gostava da minha vidinha cinza, surda, amarga e solitária. Eu que gostava de dar nó em vento e murro em ponta de faca, mas sozinha, fui obrigada a rever cores, amarelas, vermelhas, azuis, todas coloridas e muito fortes e o pior, fui obrigada a ouvir canções, frases assoviadas pelo vento e palavras pautadas no coração.
Fui obrigada a falar do amor. Eu que nem citava esse dito cujo por medo do azar. Essa peste espanhola, esse tango da morte, essa feiúra do além. Fui obrigada a reconhecer que a solidão é bem melhor a dois e que no meu coração faltava um tanto de emoção.
E eu mato. Mato esses olhos azuis, mato o amor, mato quem for preciso matar pra me ver livre dessa coisa florida toda. Ou mato à mim. Me jogo da ponte, do precipício, me jogo no rio, num monte de jacarés ou até mesmo o pior: me jogo nos braços dele. Daqueles olhos azuis, pois, pensando bem, é sacrifício demais, impossível demais, cansativo demais, ir contra o que já me envenenou. Talvez esse aí, seja bem mais esperto e treinado que eu. Pode ser que ele apareça sozinho pra enganar e seja ele quem manda nesse tal de amor, nessa gangue do bonitinho. E se não morrer pelas armas dele, posso depois ser pega à força e aí será vergonhoso, posso acabar morrendo da pior forma possível - o que não desejo à ninguém - que será nas mãos da máfia, do temível e destruidor, amor.

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